John Keane (Autor) Lançado em outubro de 2011 Edição em Português
Publisher: Edições 70, 1 January 2011
Language: Portuguese
ISBN: 978-8562938009
Introduction:
John Keane apresenta a primeira grande história da democracia em mais de um século. Algumas vezes surpreende o leitor, com seus questionamentos. Será que podemos realmente ter a certeza de que a democracia teve suas origens na Grécia antiga? Como os ideais e as instituições democráticas adquiriram os contornos e a forma que têm na atualidade? A democracia está condenada ao desaparecimento?
Em síntese, o texto confronta os leitores com o olhar irreverente para o passado, para o presente e para o futuro da democracia, evocando fatos e pessoas, algumas delas hoje esquecidas, e traça a evolução dessa forma de governo por todo o mundo, da Ásia à África, da Europa à América Latina.
Diz-se que a história é um rol de sofrimentos humanos, de subjugações infindáveis, um repositório de crimes. Mas esse modelo de servidão cruel foi estilhaçado há 2.600 anos, quando os povos gregos que viviam na orla sudeste da Europa inventaram algo que viria a integrar a lista de fatos e acontecimentos de importância atemporal.
Nascida da resistência à tirania, a princípio a democracia não suscitou grande entusiasmo. Poucos viram nela algo de novo, e muitos criticaram por trazer o caos ao mundo, subvertendo a ordem instituída. E ninguém anteviu sua universalidade.
Os gregos chamaram-na demokratia.
2010-05-16 (www.expresso.sapo.pt) A vida e morte da Democracia by Tiago Moreira Ramalho
Começando com o nascimento da Democracia de Assembleia, que situa na Mesopotâmia e não na tradicional Atenas, John Keane faz uma autêntica viagem ao longo de mais de dois mil anos, recolhendo, com um grau de detalhe que por vezes pode parecer excessivo, factos e pequenas histórias dentro da grande história da Democracia.
Fundamentalmente, Keane divide o processo em três fases distintas e em quase todas nos dá uma perspectiva algo revolucionária sobre o objecto tratado.
Na primeira fase, a da Democracia de Assembleia, Keane relata-nos como foi o nascimento do regime e como ele se sustentou e chegou, alterado, é certo, aos territórios confortáveis dos tempos recentes. É extraordinário o facto de, segundo o autor, a democracia ter sobrevivido e chegado até nós através dos muçulmanos. O próprio título deste capítulo é notável: “Para Oeste através do Leste”. Foi pela mesquita, lugar de culto, mas também de reunião do povo, que o “espírito democrático”, digamos assim, subsistiu. Não tivessem sido os muçulmanos e, muito provavelmente, a democracia seria uma simples memória inscrita em cacos cerâmica nas margens do Egeu.
Na segunda fase, a da Democracia Representativa, o grosso do volume, o autor explica-nos como foi o complicado processo de desenvolvimento de um sistema que pouco tinha que ver com a Democracia de Assembleia. Keane situa o nascimento da representatividade democrática, algures no início do segundo milénio, no Norte da Península Ibérica. Foi, segundo o autor, um produto do desespero, da ameaça iminente da conquista de todo o território ibérico pelos muçulmanos. Com o leve toque de ironia, Keane diz mesmo que “foram os muçulmanos os responsáveis pelo aparecimento dos parlamentos”. Claro que o caso espanhol das cortes e tantos outros, como o da “democracia aristocrática” polaca, não foram afirmações definitivas do sistema representativo. Longe disso, aliás. Foi nos Estados Unidos que, na realidade, a Democracia Representativa se afirmou e foi a partir daí que teve a sua verdadeira expansão.
Na terceira fase, a da Democracia Monitorial, Keane apresenta a parte que, a meu ver, é a mais interessante da obra. Detalha com um rigor impressionante a forma como, actualmente, as nossas democracias funcionam. Os contrapoderes, ao contrário de ontem, são cada vez mais provenientes da sociedade e são cada vez menos alvo de sufrágio. É a era dos blogues, dos think-tanks, dos colunistas, etc. Este é, provavelmente, o capítulo mais reflexivo, por contraposição aos outros que são, grosso modo, relatos históricos.
É esta junção entre reflexão política e relato histórico, escrito de uma forma notável, que faz deste livro indispensável. Em mais de um século, esta é a primeira história da Democracia e o facto é este: compreender a nossa forma de organização política e social passa, indubitavelmente, por conhecer a sua história.
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